A situação teatral no Porto, nos últimos anos, tem sido sobretudo marcada pela proliferação de novas companhias, em relação directa com a criação e regular funcionamento de estruturas de formação de profissionais de Teatro em domínios tão diversos como a interpretação, a cenografia e figurinos, a luminotecnia, a dança…
Assim, e se excluirmos o Visões Úteis (criado em 1994 por elementos oriundos do CITAC, de Coimbra, que optaram pela cidade do Porto), todos os outros projectos, que datam do período entre 1994 e 1996, resultam da iniciativa de jovens recém-formados por essas estruturas: esse é o caso de As Boas Raparigas Vão Para o Céu, As Más Para Todo o Lado (que apresentaram o seu primeiro espectáculo em 1993, embora só se tenham constituído em 1994), do Teatro Bruto, do Teatro Plástico (criado em 1995) e do Teatro Só. A alteração radical da cena teatral portuense nestes últimos anos, marcada sobretudo pela ousadia dos novos projectos e pela entrada em funcionamento regular do Teatro de São João, terá também propiciado a emergência do Ensemble - Sociedade de Actores. Outras companhias da cidade que merecem referência pela sua longevidade são o TEP (1950), o Seiva Trupe (1973), o Teatro Art’Imagem (1981) e o Teatro de Marionetas do Porto (1988).
Embora durante os anos 80, as diversas companhias responsáveis pela assinalável expansão da actividade teatral que o Porto então conheceu tenham tentado criar, com maior ou menor felicidade, os seus próprios espaços de trabalho, praticamente nada restou desse esforço, uma vez que quase todos eles acabaram degradados ou definitivamente desactivados, esgotados pela sua provisoriedade inicial. Esta situação que tem obrigado muitas das novas estruturas produtivas a explorar espaços alternativos, não directamente vocacionados para a prática teatral, permitindo nalguns casos estimulantes explorações cénicas, mas noutros limitando a sua actividade. Assim, podemos dizer que o Porto actualmente dispõe de um teatro nacional, o Teatro São João, de um teatro municipal, o Teatro Rivoli, do Auditório Nacional Carlos Alberto, e do Auditório da Casa das Artes; a estes acrescentam-se outras salas ligadas a diferentes estruturas, o novo Teatro do Campo Alegre (Seiva Trupe), o Teatro da Vilarinha (Pé de Vento), o Balleteatro Auditório e a Sala-Estúdio do Teatro Latino.
Existe uma variedade de festivais que anualmente se realizam na cidade. O festival com maior tradição, e com uma sucessão absolutamente regular de edições, é o FITEI (Festival Internacional de Expressão Ibérica), criado em 1978, por iniciativa conjunta do Seiva Trupe e do TEP, embora rapidamente tenha passado a dispor de organização própria. Outro festival também com uma já longa história (desde 1982) é o Fazer a Festa-Festival Internacional de Teatro para a Infância e Juventude, organizado pelo Teatro Art’Imagem, ao qual se deve juntar, apesar de mais recente (a partir de 1995), o Festival Internacional de Teatro Cómico da Maia (na Área Metropolitana do Porto), uma iniciativa que tem registado um extraordinário sucesso de público e que merecia melhores espaços para a sua realização. Outra iniciativa importante, que passou a ser organizada bianualmente, é o Festival Internacional de Marionetas do Porto, que tem conseguido trazer à cidade espectáculos nas mais variadas técnicas de manipulação. A partir de 1997, regista-se a realização no Porto de um novo festival internacional de teatro, o PoNTI (Porto Natal Teatro Internacional), que tem conseguido trazer à cidade alguns dos mais prestigiados nomes e experiências da cena teatral internacional.
A cidade do Porto dispõe desde inícios dos anos 90 de três instituições de formação de profissionais das Artes do Espectáculo: duas escolas profissionais (o Ballet Teatro Escola Profissional, criada em 1989, e a Academia Contemporânea do Espectáculo, criada em 1990) e a Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo. Novidade absoluta no tecido teatral portuense, a emergência destas estruturas de formação não poderia deixar de trazer consequências para o teatro produzido na cidade. A situação paradoxal é que estas estruturas, que, sobretudo no caso da ACE, absorveram muitos dos profissionais de teatro locais, com carreiras firmadas durante os anos 80, surgiram precisamente numa fase de contracção da produção teatral, devido ao desaparecimento de algumas das companhias que haviam marcado a década anterior. A alternativa para muitos dos jovens formados por estas escolas foi então a de, aproveitando também um novo entendimento da actividade teatral e consequente revisão da política de subsídios, criar estruturas próprias, avançar com projectos autónomos, coordenando as diferentes competências adquiridas (nas áreas da interpretação, da cenografia e figurinos, da luminotecnia), quase completamente desligados da geração directamente responsável pela sua formação, quando não em ruptura estética e ideológica com ela.
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